Passado o impacto inicial das tragédias no Rio Grande do Sul, penso que é o momento certo de fazer algumas reflexões, sem correr o risco de surfar no hype do sofrimento alheio.
Faz tempo que eu adotei uma visão cínica de mundo. Não tenho mais delírios ambientalistas.
Enquanto discutem bobagens moralistas, a boiada segue passando e destruindo tudo. Falo do Brasil, mas isso pode ser facilmente extrapolado para o cenário global.
Anos atrás, eu discutiria com negacionistas do clima. Levantaria estudos, falaria dos relatórios do IPCC. Hoje, não mais. Não tenho saco, ânimo, e entendi que, mesmo se tivesse, isso pouco importaria.
Sabe por quê?
Porque nós não temos compromisso com os fatos, mas com pautas. Com as diretrizes táteis dos grupos ao qual pertencemos.
Se você é de direita, não pode lutar contra as mudanças climáticas. Se você é de esquerda, não pode defender privatizações.
Entende? Somos individuozinhos que se agarram racionalmente aos nossos vieses, porque são eles que nos esquentam todas as noites antes de dormir.
Mais de uma década atrás, lembro de um anúncio no YouTube que me impactou bastante. Dizia algo como: o mundo não está acabando, ele está começando.
Foi mera ação de marketing para vender inovação tecnológica, mas que ecoou em mim como um espírito do meu tempo e da minha própria historicidade: a vida estava em sua iminência. Havia muito por vir.
Hoje, temo que este espírito tenha morrido nos braços da camada de ozônio. O Rio Grande do Sul acabou. Renascerá, certamente. Mas acabou.
E o mundo também se acabará, como acabou para os dinossauros lá atrás. E renasceu. Renasceu lindamente, com organismos, ecossistemas e harmonia.
Exceto os dinossauros. Estes se tornaram símbolos da fossilização.
Uma ótima semana para você,
Glaucio Delarue.